Articulações com o STF para o bem do País
Anistia e redução das
penas de ligados à baderna do 8/1
Os principais jornais do país noticiam a busca por uma solução no caso dos
baderneiros implicados nos atos de 8 de janeiro e que envolve
articulações com ministros do Supremo Tribunal Federal visando amenizar as
penas. Simultaneamente, há o pedido de discussão de um projeto de lei que
anistia os responsáveis pela baderna.
De acordo com os jornais, os ministros do Supremo Tribunal Federal estão
sendo consultados e concordam com a redução das penas.
Destaco, mais uma vez, que durante o mandato do então presidente Michel Temer,
houve idêntica baderna na Câmara dos Deputados, promovida por integrantes do PT
e do MST, que alegavam ter o Congresso articulado um golpe contra a presidente
Dilma Rousseff, sendo o pretexto equivocado, visto que o impeachment seguiu
estritamente os artigos 85 e 86 da Constituição.
Temer encerrou aquela invasão ao Legislativo, que teve
destruição de algumas de suas dependências, em duas horas, e, dois dias depois,
todos os manifestantes já estavam na rua. Ninguém permaneceu preso, porque ele
se recordou da atitude do ex-presidente Juscelino Kubitschek nas revoltas de
Aragarças e Jacareac anga, estas sim, tentativas de golpe de Estado com
militares chegando a conquistar importante cidade no norte do país.
O que me impressiona é a informação de que será apresentado um projeto que,
para ser viabilizado, demandará uma redução substancial das penas. Se o Supremo
Tribunal Federal está sendo consultado e, conforme noticiado, concorda com essa
abordagem – ressalto que apenas reproduzo o que a imprensa divulga –, por que a
iniciativa não pode partir do próprio Pretório Excelso?
Tenho insistido, em meus artigos e nas redes sociais, que se a iniciativa de
reduzir substancialmente as penas – considerando, inclusive, o tempo de prisão
desde 8 de janeiro, portanto, há quase dois anos e meio – partisse do próprio
Supremo Tribunal Federal, o caminho mais adequado seria ele mesmo reexaminar
cada caso e declarar que a pena já foi cumprida.
Se a Corte maior do país tomasse a iniciativa de revisar sua decisão – seja por
um ato próprio ou provocado por um advogado –, em vez de depender do Congresso,
retomaria o controle da situação e, evidentemente, ganharia, uma percepção
junto à população de que não está alimentando e realimentando o
radicalismo no Brasil.
Enquanto mantivermos condenações de 14, 15, 16 anos para os envolvidos nos atos
de vandalismo de 8 de janeiro, contrastando com aquelas para assassinos,
traficantes e corruptos que permanecem soltos, a imagem do Supremo será
inevitavelmente retratada negativamente pelas pesquisas, distante da reputação
que o maior sodalício julgador da nação possuía na época de ministros como
Moreira Alves, ou mesmo em relação a toda a sua história.
Evidentemente, eu gostaria que ocorresse a anistia. No
entanto, caso um gesto nesse sentido não parta do Congresso, com quem as
negociações ocorrem, torna-se crucial analisar os termos propostos. A intenção
seria uma anistia ampla, que abrangesse tanto aqueles que se pretende condenar
quanto os já condenados, para que o episódio seja considerado totalmente
encerrado. Desse modo, teríamos, evidentemente, a possibilidade de um caminho
para a pacificação.
Entretanto, quanto à redução de penas, outra alternativa, tem sido ela objeto
de consultas aos Ministros do STF, que, de acordo com os jornais, com ela
concordam.
Gostaria, portanto, que o próprio Supremo Tribunal Federal antecipasse a
iniciativa que, conforme noticiado, será do Congresso Nacional com o aval
daquela Corte. Isso permitiria resgatar a imagem do STF que, como advogado há
68 anos, desde minha primeira sustentação oral em 1962 ou 1963, sempre defendi
e lutei para preservar.
Enfim, aos 90 anos, reitero este sonho aos amigos: de o Pretório Excelso
recuperar sua imagem perante aqueles que discordam das penas aplicadas aos
envolvidos nos atos de 8 de janeiro, consideradas mais severas que as impostas
a traficantes, corruptos e assassinos. A concretização desse sonho é essencial
para alcançarmos a pacificação nacional, condição fundamental para que o Brasil
volte a ser um país pacificado na rota para o desenvolvimento.
Ives Gandra da Silva Martins é professor emérito das universidades
Mackenzie, Unip, Unifieo, UniFMU, do Ciee/O Estado de São Paulo, das Escolas de
Comando e Estado-Maior do Exército (Eceme), Superior de Guerra (ESG) e da
Magistratura do Tribunal Regional Federal – 1ª Região, professor honorário das
Universidades Austral (Argentina), San Martin de Porres (Peru) e Vasili Goldis
(Romênia), doutor honoris causa das Universidades de Craiova
(Romênia) e das PUCs PR e RS, catedrático da Universidade do Minho (Portugal),
presidente do Conselho Superior de Direito da Fecomercio -SP, ex-presidente da
Academia Paulista de Letras (APL) e do Instituto dos Advogados de São Paulo
(Iasp).
Foto: Andreia Tarelow.