Sexta-feira, 9 maio 2025
 
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A vanguarda da metrologia brasileira

Marcos Heleno Guerson de Oliveira Junior Superintendente do Ipem-SP

Estado - O Ipem-SP esteve na vanguarda da metrologia brasileira desde sua criação, em 24 de abril de 1967, há 58 anos atrás. Para entender esta história, precisamos voltar um pouco no tempo, para maio de 1875, quando o Brasil fez parte da comissão que instituiu o sistema internacional de unidades, então chamado de convenção do metro.

Eram duas as motivações para a padronização das unidades. A primeira, vindo do comércio internacional, cada vez mais globalizado e necessitando de harmonia entre os países para realizar seu potencial de troca. O segundo, vindo da comunidade científica, entendia que era fundamental uma base única de medições para o avanço da tecnologia, pois apenas com medidas era possível o avanço da ciência. Não é por acaso que a convenção do metro está no coração da revolução tecnológica que gerou as chamadas revoluções industriais. Ao contrário, foi uma das suas forças impulsionadoras.

A história da metrologia brasileira começa em São Paulo. Coube ao Gabinete de Resistência dos Materiais, atual IPT, criar uma divisão de metrologia aplicada, a primeira de nosso país. Não é por acaso, portanto, que o IPT se orgulha de ser o berço da metrologia brasileira.

Somente na década de 1930, no estado novo, com forte pensamento centralizador, que foi criado o Instituto Nacional de Tecnologia (INT), na tentativa de ter um IPT federal. Na década de 1940 o governo Vargas instituiu uma política nacional de metrologia, tendo o INT e o Observatório Nacional como executores. O INT tinha uma diretoria de metrologia, que trabalhava principalmente a regulamentação da metrologia legal.

No final dos anos 50 entendeu-se que o Brasil precisava de uma nova organização, que fosse dedicada ao tema da metrologia e assim foi criado em 1961, não sem forte oposição do INT, o Instituto Nacional de Pesos e Medidas (INPM). A história do Ipem-SP está ligada ao movimento seguinte, ao governo Castelo Branco.

Foi nesse governo que se entendeu que o Brasil, de dimensões continentais, não poderia concentrar a execução de suas políticas em estruturas federais. Foi este o espírito do Decreto Lei 200, de 25 de fevereiro de 1967, que reorganiza o estado brasileiro e é o marco para a ideia de que o planejamento tinha que ser centralizado e a execução tinha que ser delegada aos governos estaduais, administração indireta ou empresas estatais. Dois dias depois, é publicado o Decreto Lei 240, que estabelece a Política Nacional de Metrologia, seguindo este espírito.

Não demorou muito para que São Paulo criasse o primeiro instituto estadual de pesos e medidas, o Ipem-SP, para executar as atividades da Política recém estabelecida. Foi assim que 2 meses depois do DL 240 se criou o nosso Ipem.

Os desafios iniciais eram enormes. Em 1967 a metrologia legal praticamente só chegava nas principais capitais e foi o Ipem-SP que iniciou o trabalho de interiorização ao longo dos anos 1970, criando boa parte das regionais que temos hoje. Existem pessoas aqui no Ipem que participaram deste movimento. Nosso colaborador mais antigo na instituição entrou aqui em 1971. Neste período destaca-se também a figura do Adejair Trigo, um verdadeiro desbravador da metrologia no interior do estado. Foi assim que na prática o Ipem foi a vanguarda da metrologia legal brasileira, estabelecendo processos e estruturas para que a proteção do mercado chegasse a todos os brasileiros.

Mas o Ipem nunca se deixou estagnar. Na década de 1990 foi peça fundamental para outro movimento importante no país, o da promoção da qualidade. Iniciando com uma unidade têxtil, o Ipem desenvolveu, juntamente com o Inmetro, os procedimentos da avaliação da qualidade, que deram origem ao selo do próprio Inmetro, principal marca de conformidade de nosso país. Temos também vários colaboradores que participaram deste movimento e estão conosco até hoje.

Um ponto importante da história do Ipem foi a estrutura laboratorial que foi criada, especialmente da administração do Dr. Trigo. O instituto sempre foi muito zeloso da rastreabilidade de seus padrões o que levou a ter hoje mais de uma dezena de laboratórios prestando serviços de calibração para o próprio Ipem e para empresas interessadas, participando da metrologia industrial brasileira.

Chegamos aos tempos presentes. Os desafios estão postos. O mercado é muito mais desafiador, impactado pela 4ª revolução industrial e suas tecnologias emergentes. Como impulsionar, através da infraestrutura da qualidade, a indústria tecnológica que se estabelece? Como ajudar na promoção dos negócios disruptivos que necessitam de confiança para terem sucesso? Como prestar serviços de metrologia legal em instrumentos cada vez mais digitais? Como trabalhar a inovação, coração da Indústria 4.0 sem que a IQ seja um obstáculo mas sim um suporte? Como utilizar as novas tecnologias para realizar uma vigilância de mercado mais efetiva e que faça realmente a diferença? Como trabalhar a cultura para que empresas e consumidores tenham a qualidade como um aliado e não um simples fator de preço?

Como podemos ver, são muitos os desafios, mas o Ipem-SP tem uma história de pioneirismo e vanguarda. Possui uma força de trabalho comprometida e que realmente veste a camisa, querendo sempre fazer a diferença. Olha para o futuro, com o orgulho de seu passado. Nunca se deixou estagnar, sempre esteve à frente e não será diferente agora. O estado de São Paulo pode ter a certeza que estamos trabalhando todos os dias para enfrentar estes desafios e transformá-los em oportunidades pois temos a consciência de nossa responsabilidade em ajudar nosso setor produtivo promovendo dignidade, diálogo e desenvolvimento.

 O Ipem-SP está na direção certa.