O Pacote fiscal e o Proagro
*Eduardo
Berbigier
Governo apresenta
pacote econômico polêmico. Propostas de corte levantam debates sobre impacto em
programas sociais e ajustes estruturais necessários
Em um país em que as desigualdades econômicas já são enormes,
o governo federal insiste em propor pacotes que mais prejudicam do que
corrigem. O discurso de corte de gastos na última semana é apenas uma fachada:
enquanto o governo manté m privilégios intocados, como quinquênios retroativos
e férias de 120 dias para o alto escalão, são os mais vulneráveis que acabam
pagando a conta.
Entre as medidas mais polêmicas, está a tentativa de limitar as despesas do
Programa de Garantia da Atividade Agropecuária (Proagro), fundamental para o
agronegócio, um dos setores mais resilientes da economia brasileira.
Atualmente, as despesas do Proagro ficam na conta do Banco Central, mas, devido
aos elevados custos, o governo quer transferir essas despesas para o orçamento,
restringindo-as à previsão orçamentária. Essa mudança pode afetar diretamente a
segurança e o planejamento de produtores rurais que enfrentam adversidades
climáticas, colocando em risco não só a produção agrícola, mas também a
segurança alim entar do país.
Ao mesmo tempo, o Benefício de Prestação Continuada (BPC), essencial para
famílias em situação de extrema vulnerabilidade, é alvo de medidas que
dificultam o acesso. Famílias que lidam com doenças raras, muitas vezes não
conseguem receber os benefícios que têm direito, mesmo após decisões judiciais.
Enquanto isso, os gastos bilionários com privilégios no alto escalão seguem
intactos.
Mas o problema não é apenas social - e sim estrutural. O governo insiste em
aumentar impostos sobre aqueles que já contribuem significativamente, como
empresas que pagam 34% de imposto sobre lucros, além de tentar tributar
dividendos. Essa estratégia não só desestimula o investimento, como também
alimenta uma narrativa de divisão social, em que os “ricos” são
demonizados sem que os dados sejam apresentados com clareza. Uma verdadeira
demagogia!
O reflexo dessa política equivocada pode ser visto na economia. A alta do
dólar, que já ultrapassou R$6, afeta diretamente o custo de vida dos
brasileiros. Não se trata apenas de viagens internacionais ou carros
importados; 85% dos insumos para fertilizantes são importados, o que impacta
diretamente o preço dos alimentos. Isso sem mencionar a indústria, que depende
de produtos químicos e embalagens importadas, encarecendo a produção nacional.
O pacote anunciado pelo governo, que prometia economizar R$ 327 bilhões até
2030, não passa de um amadorismo. Até mesmo analistas alinhados com o governo
admitem que será difícil alcançar uma economia de R$ 40 a R$ 50 bilhões nos
próximos dois anos. E o déficit fiscal, que já chegou a R$ 105 bilhões até
setembro, continua crescendo, mesmo com um aumento real de 9,77% na carga
tributária até outubro.
O Brasil precisa de cortes reais, não de manobras que apenas aumentam o peso
sobre os cidadãos e setores produtivos. É hora de enfrentar os privilégios do alto
escalão, reduzir os gastos desnecessários e priorizar quem realmente precisa.
Sem essas mudanças, continuaremos a ver pacotes que prometem muito, mas
entregam pouco, enquanto o país afunda em um mar de injustiças e desconfiança.
*Eduardo Berbigier é advogado
tributarista, especialista em Agronegócio e CEO do Berbigier Sociedade de
Advogados.