Lula , Maduro e as atas eleitorais
*Ives Gandra da Silva
Martins
Já se passaram quase dois meses das eleições na Venezuela e as atas eleitorais
ainda não foram apresentadas. E, provavelmente, não serão
O Presidente Lula está convencido que Maduro fraudou as eleições. Se não
estivesse, não insistiria na exibição das atas, cujas cópias estão em mãos da
oposição e de todos os mandatários dos países democráticos que denunciaram a
fraude, a perseguição dos opositores vencedores e as torturas realizadas pelo
cruel ditador venezuelano e sua corja dirigente.
Insiste, todavia, para não ter que atacar seu amigo sanguinário, que só se
pronunciará após terem sido exibidas as atas, sabendo que nunca serão.
Maduro entregou à Justiça, cujos magistrados foram escolhidos a dedo entre seus
asseclas, a qual declarou que as atas não precisam ser exibidas, apesar de
quase 80% de suas cópias estarem em mãos da oposição, porque a palavra de
Maduro, como nas monarquias absolutas da era feudal em que a palavra do rei não
poderia ser contestada, é absoluta e se disse que ganhou a eleição é o que
basta.
Apesar de haver cópias das atas, que levaram todos os países democráticos a
declarar vitória esmagadora de González, na ditadura venezuelana o que vale é a
força de um Exército partícipe da corrupção, marca maior do fraudulento Governo
da Venezuela, a que muitos atribuem ser hoje um dos grandes focos da geração do
narcotráfico no planeta.
Recentemente uma declaração conjunta formulada 41 países membros da Organização
das Nações Unidas (ONU) solicitou ao Conselho Nacional Eleitoral da
Venezuela (CNE) que publique imediatamente os resultados de todas as atas
eleitorais e permita a verificação dos dados para promover a credibilidade do
processo eleição de 28 de julho.
À evidência, um modesto advogado de província como eu não pode aconselhar um
presidente que possui muito mais títulos de professor e 'doutor honoris causa'
pelo mundo do que as poucas dezenas que tenho. Gostaria, todavia, de fazer
algumas ponderações sobre o tema.
A primeira delas: pode alguém se dizer democrata se admira e é amigo de
notórios e cruéis ditadores como Putin, Maduro, Xi Jinping e aqueles que
dirigiram a mais antiga ditadura da América em Cuba?
A segunda: por que tanta aversão aos países democráticos como Estados Unidos e
o Polo Ocidental, preferindo o Polo Oriental sob a tutela chinesa, que embora
seja uma economia liberal é uma ditadura política?
Terceira: por que ao se dizer orgulhoso de ser comunista e ter nomeado um
comunista para o STF, adotando uma política de alinhamento mais com as
ditaduras do que com as democracias, tendo tido apenas 40% do eleitorado, não
consulta o povo sobre sua política externa através de um plebiscito? Afinal,
ele teve 60 milhões de votos contra 58 milhões de Bolsonaro, 7 milhões de votos
nulos e 25 milhões de abstenções. Noventa milhões de brasileiros eleitores não
votaram nele.
Quarta: por que não condenou a chacina de israelenses sem motivo pelo Hamas,
que deliberadamente após assassinar 1.300 inocentes, levou 200 reféns para a
Palestina, com a intenção de provocar a reação de Israel e colocar o mundo
contra o país que queria recuperar os reféns martirizados? Colocou-se desde o
início a favor da Palestina e contra Israel.
São alguns dos pontos de reflexão que gostaria que o presidente meditasse para
saber o que o povo pensa destas opções que não foram objeto dos debates
eleitorais em 2022.
À nitidez, se mesmo sem plebiscito, já condenasse o cruel ditador venezuelano –
não um governante desagradável – pela sua monumental fraude eleitoral, já
melhoraria sua imagem internamente e, principalmente, a do Brasil no Exterior.
Afinal, o Brasil é uma nação ocidental. Nossos valores, cultura, preferências e
alinhamentos sempre foram ocidentais. O chamado Sul Global é apenas um projeto
de poder da China, de característica oriental, quase sempre mais tendente a
regimes e sistemas totalitários que democratas.
*Ives Gandra da Silva Martins é
professor emérito das universidades Mackenzie, Unip, Unifieo, UniFMU, do Ciee/O
Estado de São Paulo, das Escolas de Comando e Estado-Maior do Exército (Eceme),
Superior de Guerra (ESG) e da Magistratura do Tribunal Regional Federal – 1ª
Região, professor honorário das Universidades Austral (Argentina), San Martin
de Porres (Peru) e Vasili Goldis (Romênia), doutor honoris causa das
Universidades de Craiova (Romênia) e das PUCs PR e RS, catedrático da
Universidade do Minho (Portugal), presidente do Conselho Superior de Direito da
Fecomercio -SP, ex-presidente da Academia Paulista de Letras (APL) e do Instituto
dos Advogados de São Paulo (Iasp).
Foto: Andreia Tarelow.