Polícia Penal fiscalizará presos durante as saidinhas
Maria das Neves
Duarte: coord. regional de SP do Sifuspesp - Saída temporária de presos em São
Paulo
Na última saída
temporária, 2 mil sentenciados não voltaram para as suas unidades: novos
policiais farão fiscalização surpresa e recaptura dos fugitivos
Estado - Aprovada a criação da Polícia Penal de São Paulo, agora o Estado entra na segunda fase, a da regulamentação das atividades dessa nova força de segurança, dedicada a cuidar da população carcerária, composta por 209 mil pessoas distribuídas em 179 unidades prisionais. Uma das atividades que a força policial deve desenvolver é o monitoramento dos sentenciados que são beneficiados pelas saídas temporárias.
“Boa parte dos problemas provocados durante as chamadas
‘saidinhas’ ocorre porque presos sem as mínimas condições psicológicas são
colocados em liberdade e sem fiscalização. Não há, em São Paulo, uma equipe
dedicada a monitorar esses detentos. Esse será um dos papéis dessa nova
polícia”, diz Fábio Jabá, policial penal há 22 anos e presidente licenciado do
Sindicato dos Funcionários do Sistema Prisional de São Paulo (SIFUSPESP).
O monitoramento desses sentenciados é essencial para garantir o correto
cumprimento da pena. “Há apenas um pequeno grupo de servidores no CECOP
(Centro de Controle e Operações Penitenciárias) que monitora somente os
detentos que usam tornozeleira eletrônica. O problema é que o Estado de São
Paulo tem cerca de 5 mil aparelhos, número tão irrisório que as tornozeleiras
foram reservadas a detentos do semiaberto ou para casos de medida
protetiva", diz Jabá.
Na ‘saidinha’ do ferido da Semana Santa, cerca de 37 mil detentos de São Paulo
foram colocados em liberdade por sete dias. "Nenhum usava
tornozeleira. Pouco mais de 2 mil, cerca de 5%, não voltaram. As autoridades só
agem depois do prazo final, quando se confirma que ele não retornou ao
presídio. Pela nossa experiência, sabemos que muitos aproveitam a falta de
fiscalização para cometer novos crimes nesses dias de liberdade”,
alerta Maria das Neves Duarte, Coordenadora da Regional-Capital do
SIFUSPESP.
Quando um preso tem direito à saída temporária, ele deve
informar um endereço onde vai permanecer. “Hoje, ninguém vai lá conferir
se ele está mesmo naquele lugar. A Polícia Penal deve montar equipes móveis que
farão fiscalizações rotineiras e de surpresa, para garantir que o sentenciado
cumpra as determinações judiciais”, explica Maria das Neves.
Captura de fugitivos
Quando presos não retornarem, caberá à PPSP localizá-los e recapturá-los. A Polícia Penal do Rio de Janeiro, por exemplo, criada no ano passado, já possui a Divisão de Buscas e Recapturas (RECAP). No primeiro ano de atividade (2021), foram 37 recapturas. Neste ano, 49 fugitivos foram recapturados até agora.
“As equipes investigam, usam dados de inteligência e cruzam todas as informações que têm do detento para localizá-lo e prendê-lo novamente, sem precisar mobilizar outras forças policiais. Com a regulamentação, a população de São Paulo também terá servidores dedicados a isso”, reforça Gilberto Antônio da Silva, secretário-geral do sindicato.
Medidas cautelares
A PPSP também ficará responsável pela aplicação das chamadas
medidas cautelares diversas à prisão, aquelas nas quais o réu precisa
comparecer periodicamente à Justiça, mas não comparece. “Atualmente,
alguns municípios fazem esse trabalho em convênio com o Judiciário. O problema
é que, muitas vezes, servidores administrativos civis e desarmados são
obrigados a procurar por essas pessoas em locais perigosos, justamente porque
ainda não existia uma polícia especializada para isso”, comenta Alancarlo
Fernet, tesoureiro do SIFUSPESP.
Mais segurança para todos
A criação da Polícia Penal dá a São Paulo a chance de fechar o ciclo completo da segurança pública, com estruturas policiais responsáveis pelo combate ao crime de ponta a ponta: pela investigação, detenção e pela aplicação das penalidades previstas na lei. “A oportunidade de reestruturar o sistema prisional é agora e não podemos mais esperar.
A aplicação da pena de forma adequada reduz a reincidência no crime, principal objetivo a ser perseguido e que vai refletir diretamente do lado de fora das muralhas, na segurança de toda a sociedade”, acredita Fábio Jabá.
Foto: Antônio Cruz/Agência Brasil.