O aval brasileiro ao ditador Maduro
O Ditador Nicolás Maduro assumiu o terceiro mandato como
presidente da Venezuela na Assembleia Nacional, em Caracas, em 10/1. Líder
chavista tomou posse em meio a contestações sobre resultado eleitoral e tensão
com a oposição.
A eleição venezuelana, realizada em julho do ano passado, teve o resultado
contestado pela população, com repercussão internacional. Pela cópia das atas
distribuídas, correspondentes a 80% das urnas apuradas, demonstraram uma
esmagadora vitória do candidato oposicionista Gonzalez, com aproximadamente 2/3
dos votos do povo da Venezuela. Isto é fato inequívoco e comprovado.
Tais cópias das atas eram distribuídas aos que estavam fiscalizando as eleições
pela oposição. Quando o ditador Maduro percebeu a inviabilidade de uma vitória
sua, suspendeu as apurações, a entrega das cópias das atas e
se autodeclarou vitorioso, sem exibir as atas de apuração final e sem, até
hoje, ter tido a coragem de exibi-las.
Pelas cópias em mãos da oposição, mesmo que o referido tiranete tivesse todos
os votos dos outros 20%, já teria perdido com os primeiros 80% dos votos
apurados na eleição.
Apesar dos protestos da população que povoou as ruas de Caracas e outros
Municípios, Maduro decidiu persegui-los, prendê-los e conseguiu dos Poderes
subordinados, a homologação da fraude, tomando posse para um novo
mandato que não conquistou nas urnas, mas exclusivamente com o apoio de seus
asseclas espalhados pelos diversos escalões da administração do país.
Todas as nações democráticas denunciaram a fraude, não reconhecendo sua
inexistente vitória. O próprio presidente Lula declarou que sem a exibição das
atas não poderia reconhecer a vitória, tendo sugerido uma nova eleição.
Ocorre que, curiosamente, o governo brasileiro enviou sua embaixadora à
posse, o que, a meu ver, representou o reconhecimento da farsa
venezuelana. As nações democráticas, como por exemplo Argentina, Estados Unidos
e Chile, não foram à posse do fraudulento auto outorgado presidente e somente
as ditaduras tiveram expressiva presença na degradante solenidade.
Tenho a impressão que a esmagadora maioria da população brasileira considera
Maduro um criminoso, como aliás assim o condenou o Tribunal Penal Internacional
e, à evidência, não está de acordo com a presença da embaixadora brasileira,
avalizando a posse do ditador.
O que mais me preocupa, todavia, é que a imagem do Brasil no concerto
internacional fica desfigurada. Já pagamos um preço elevado, por pretendermos
encerrar a guerra da conquista da Rússia contra a Ucrânia, aceitando uma paz
que representaria a cessão de 20% do território ucraniano às forças invasoras.
Pior ainda, é o apoio indireto dado aos próprios terroristas do Hamas e
Hezbollah, que pretendem eliminar o Estado de Israel, que teve na figura do
brasileiro Oswaldo Aranha, em 1946, o seu artífice para a criação.
É, por outro lado, inequívoco o apoio à ditadura cubana cujos empréstimos
feitos pelo Brasil, à época da direção de seu partido, continuam sem ser pagos,
como aqueles também à Venezuela. E a busca do Brasil de optar, não pelo mundo
democrático ocidental, mas pelo mundo oriental no “sul global” sob o comando da
China é outra opção, a meu ver também equivocada.
Creio que nunca a diplomacia brasileira, que desde Rio Branco foi um exemplo
para o mundo, foi tão desfigurada por conta das opçõesdeste governo.
Com todo o respeito que sempre tive por todos os presidentes brasileiros e que
tenho pelo presidente Lula, creio que estamos trilhando rotas incertas e
inseguranças, que poderão prejudicar o desenvolvimento nacional e o futuro do
país.
*Ives Gandra da Silva Martins é
professor emérito das universidades Mackenzie, Unip, Unifieo, UniFMU, do Ciee/O
Estado de São Paulo, das Escolas de Comando e Estado-Maior do Exército (Eceme),
Superior de Guerra (ESG) e da Magistratura do Tribunal Regional Federal – 1ª
Região, professor honorário das Universidades Austral (Argentina), San Martin
de Porres (Peru) e Vasili Goldis (Romênia), doutor honoris causa das
Universidades de Craiova (Romênia) e das PUCs PR e RS, catedrático da
Universidade do Minho (Portugal), presidente do Conselho Superior de Direito da
Fecomercio -SP, ex-presidente da Academia Paulista de Letras (APL) e do
Instituto dos Advogados de São Paulo (Iasp).
Foto: Andreia Tarelow.