Sexta-feira, 19 abril 2024
 
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Artigo - A Ordem É Participar

José Renato Nalini é Reitor da Uniregistral, docente universitário, palestrante e conferencista, autor de “Ética Geral e Profissional”, RT

A situação brasileira é de envergonhar quem não perdeu a capacidade de indignação. 65 milhões de desempregados, desalentados ou subempregados. Violência em todos os espaços. Insegurança e falta de confiança nos aparelhos de proteção. Toneladas de esgoto arremessadas à água doce, da qual dependemos para sobreviver. Indústrias fechando, comércio encerrando as portas. Quem pode partindo para o exterior.

Para compensar, voltam as epidemias, doenças que acreditávamos já extirpadas estão à espreita, pois a falta de saneamento básico implementa a disseminação de vírus e bactérias. Tudo contaminado, não apenas metaforicamente, como poderia parecer, já que a política é desesperadora.

As promessas de campanha repisam problemas crônicos. Ninguém fala o que poderia mudar o rumo deste Brasil desgovernado. A mais urgente é a reforma política. República com 35 partidos, que obriga a governança de coalizão – melhor diria, de colisão! – não funciona. Pois impõe a entrega de fatias saborosas da administração pública para quem está mais interessado em perseguir seus interesses egoísticos do que em atender ao bem comum.

Mas quem ousaria sugerir redução desse caótico cenário partidário para quatro ou cinco siglas?

Depois, o Estado cresceu, inchou, inflamou e supurou. Praticamente tudo o que é administração direta é ineficiente, burocratizado, dispendioso e sob suspeita de malversação do escasso dinheiro do povo.

Quem teria coragem de reverter a situação de Estado-membro a território, daquelas entidades federativas que não têm como se sustentar? Ou de propor a extinção de municípios, para que voltem a ser distritos se não têm orçamento? Ou adotar o gesto simbólico de fazer com que as Câmaras Municipais funcionem à base do voluntariado, pois não existe a profissão “vereador”! Quem se dispusesse a atuar no Legislativo deveria oferecer esse múnus como colaboração ao aperfeiçoamento da sociedade, sem receber salário por isso.

Tais questões são exercício de ficção pura. Não entram na cogitação de quem vende a alma para se eleger e que tem consciência da dificuldade que é fazer com que esta nau desgovernada retome um destino seguro. Por isso é que há muita gente desencantada. Pessoas que não acreditam mais em nada. Que precisam urgentemente de um herói e que procuram uma liderança confiável. Grande parcela dos desalentados não quer votar. Vai anular o voto, votar em branco ou, simplesmente, faltar no dia das eleições.

Não é isso o que melhorará o Brasil. Ao contrário: permitirá que aqueles interessados em que tudo continue como antes se satisfaçam com uma percentagem que não reflete a vontade popular, mas será suficiente para eleger o governante e os parlamentares. Se quisermos mudar o Brasil, precisamos eleger alguém digno do voto. Não só os exercentes de cargos majoritários, que pouco podem fazer se não houver um Legislativo sério, atuante, responsável, ético. Isso será possível se escolhermos bem.

Inacreditável que todos sejam representantes do mal. Vamos procurar com lupa e encontrar gente honesta, gente séria, gente que não tenha perdido a moral.

Essa renovação permitirá que nos aproximemos do ideal da Democracia Participativa, promessa descumprida por responsabilidade nossa. Sem participação, não é possível esperar que aqueles que vivem a estiolar a Nação se convertam ou se regenerem. Precisamos investir na retomada dos compromissos com a probidade, com a honra, com os valores em declínio, mas que não estão ainda extintos. A ordem é participar!

Nota da Redação: Os artigos publicados neste espaço “Opinião” são de inteira responsabilidade de seus autores. As opiniões neles emitidas não exprimem, necessariamente, o ponto de vista do “Jornal Folha Regional de Andradina” e nem de sua direção.