Sexta-feira, 29 mar 2024
 
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Artigo: Assassinos do futuro

Andradina - Era um sábado do mês de novembro do ano que não tem a mínima importância dizer agora. A tarde havia chegado tão convidativa à uma caminhada que ofereci ao tempo minhas singelas passadas.

Caminhava no entorno da Igreja Nossa Senhora das Graças e, logo vi uma agitação de pessoas, motivo pelo qual não foi difícil perceber que haveria um casamento no recinto.

Os casais de padrinhos desfilavam com tamanha elegância, digna do evento; as mulheres trajavam vestidos longos das mais diversificadas cores, tais como, rosa, lilás, azul escuro, verde, branco e outras cores alucinantes e decotes provocativos, ao passo que os homens usavam ternos pretos e azuis marinho e um outro usava uma cor mais clara.

Cada volta que eu dava no entorno da Igreja podia perceber a emoção que tomava conta do ambiente e, aos poucos os padrinhos desfilaram até ao altar. Pouco depois chegou a vez do noivo, o qual um tanto nervoso arrumava a gravata e indagava a alguém se estava tudo bem.

Mais uma volta na quadra e agora a noiva havia chegado e aguardava a abertura da porta para irromper ao cenário com aquele vestido branco deslumbrante. O piano tocou a marcha nupcial e o pai conduzia a filha para o altar com todo o zelo e orgulho, sem esconder uma ponta de emoção, quiçá por lembranças da própria juventude...

Assim que a cerimônia iniciou, ao passar pela porta da igreja pude sentir as fragrâncias dispensas no espaço, oriundas das pessoas que faziam parte daquela história. Dei mais uma conferida e inspirei profundamente, pois aquilo era absolutamente gostoso.

O padre começou a falar sobre o livro da sabedoria e mergulhou nos alicerces de Gêneses 1.27.28 – E criou Deus o homem à sua imagem; à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou. E Deus os abençoou, e Deus lhes disse: frutificai-vos e multiplicai-vos, enchei a terra.

Exortou ao novo casal a importância da família com célula de uma sociedade digna, honesta e cumpridora de suas obrigações evocando, por fim, Marcos 10;8 – E serão os dois uma só carne; e assim já não serão dois, mas só uma carne.

Neste momento, os assassinos do futuro chegaram atrasados; enquanto o pai descia do carro tragando o cigarro e desajeitado colocava o paletó, a mulher descia pelo outro lado com o seu cigarro na boca, enquanto o garoto descia pela porta traseira do carro.

Andaram rapidamente e ainda houve tempo de pararem próximos à entrada lateral da igreja, sendo que a mulher estacou a caminhada para dar a última tragada e esticou o braço bem no nariz do filho, o qual, inocentemente, inspira aquela fumaça tóxica e mortífera.

Lançaram o cigarro ao chão por apagar e contrastando com o aroma do perfume aquela catinga de pocilga os acompanhava para assistirem uma parte do ato religioso.

Fiquei irritado com aquele ato criminoso contra um inocente, porém, minha caminhada era absolutamente agradável, respirava profundamente outros ares observando o infinito e me perguntei: Quem sou eu para consertar o mundo?

Uma nuvem solitária insistia em acortinar os últimos momentos do dia daquela caminhada, quando o cortejo de carros, puxados pelos noivos, passou por mim num verdadeiro buzinaço e foi que percebi que os assassinos do futuro integravam a comitiva...