Sexta-feira, 26 abril 2024
 
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PF prende presidente do PSDB em Goiás e ex-secretário de Perillo por desvio para campanhas do partido

O organograma do esquema

As ações fazem parte da Operação "Decantação", deflagrada na quarta-feira; R$ 4,5 milhões foram desviados de empresa de saneamento do Estado

A Polícia Federal prendeu temporariamente na quarta-feira, 24, o presidente do PSDB em Goiás, Afreni Gonçalves Leite, e outras autoridades ligadas ao governador tucano Marconi Perillo. As medidas fazem parte da Operação Decantação, que investiga desvio de recursos federais na Empresa Saneamento de Goiás (Saneago). A suspeita é de que o esquema tenha abastecido campanhas políticas do partido.

Também foram alvos de mandados de prisão o diretor-presidente da Saneago, José Taveira Rocha, ex-secretário de Fazenda de Perillo, e mais 13 pessoas, entre funcionários da empresa pública e empresários suspeitos de envolvimento nos desvios.

Conforme a Polícia Federal, um grupo de empreiteiras era favorecido em licitações para obras de saneamento promovidas pela empresa, bancadas pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e financiamentos da Caixa e do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Os projetos das obras, elaborados por dois escritórios de consultoria contratados para atuar dentro da Saneago, eram elaborados com regras restritivas, de forma a direcionar os contratos a construtoras que participavam do esquema.

Em apenas duas obras, o Ministério da Transparência, parceiro na investigação, detectou superfaturamento de R$ 4,5 milhões.

Escutas de telefonemas entre os envolvidos levantaram suspeitas de que parte do dinheiro desviado das obras era para bancar dívidas de campanhas políticas. Levantamento do Estado mostra que apenas quatro empresas envolvidas doaram oficialmente R$ 2,3 milhões a candidatos do PSDB e ao diretório do partido em Goiás em 2014. A Sanefer, alvo de buscas nesta quarta, contribuiu com R$ 590 mil. A sede do PSDB no Estado também foi vasculhada. Na casa do presidente da Saneago, foram apreendidos cerca de R$ 100 mil em espécie.

A operação atinge a legenda do ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, a quem a PF é subordinada, e é considerada pelos investigadores uma “Lava Jato local” por envolver desvio de dinheiro e financiamento de campanhas.

Ao todo, cerca de 300 policiais cumpriram 120 mandados judiciais, sendo 11 de prisão preventiva, quatro de prisão temporária, 21 de condução coercitiva e 67 de busca e apreensão.

As ordens judiciais foram cumpridas em Goiânia, Aparecida de Goiânia, Formosa, Itumbiara, São Paulo e Florianópolis (SC). Também foi determinado o afastamento da função pública de oito servidores e a proibição de comunicação entre nove envolvidos. Os envolvidos responderão por peculato, corrupção passiva, corrupção ativa, organização criminosa e fraudes em processos licitatórios.

O PSDB em Goiás não se pronunciou na quarta-feira. A Saneago não retornou a contato do Estado. Representantes da Sanefer não foram localizados.

O Governo de Goiás alegou que apoia as investigações e que está à disposição das autoridades para esclarecimentos. Em nota, sustentou que “acredita na idoneidade dos diretores e superintendentes da Saneago”. “Os procedimentos licitatórios realizados pelos órgãos, autarquias e empresas da administração estadual são pautados pela legalidade e pela transparência”, acrescentou.

Fábio Fabrini, Andreza Matais e Fabio Serapião-Estadão.